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terça-feira, 31 de março de 2015

a sete chaves

A tarde está chegando ao fim, mas tenho tanto dever pra fazer que é como se o dia ainda estivesse no início. Sim, me adaptar a este novo ritmo ainda parece uma tarefa difícil. A tarde está chegando ao fim e eu ainda estou aqui neste ônibus, encaixando palavras e vírgulas enquanto passo por muitos pontos. Eu poderia estar agora muito ocupada contando os minutos até chegar em casa, mas o meu cansaço faz do horário um complexo cálculo matemático. Este ônibus passa e para em muitos pontos, que, nesse contexto, imitam o que as vírgulas fazem num texto: servem como uma breve pausa que antecede o ponto final, onde vou descer e, enfim, caminhar por ruas e mais duas longas praças até chegar em casa.
Estar nesse ônibus é a confirmação de que a vida é mesmo muito incerta, muito indecisa. Muito corrida. Muito esquisita. Eu estou agora chegando da escola, sendo que, há pouco tempo, eu estava  internada sem previsão de alta.
Esse fim de tarde me faz sentir imersa ao mundo real. E me faz lembrar alguns fins de tarde que vivi lá no hospital, como aquele em que fiz perguntas repetitivas à minha intuição sobre o dia em que eu voltaria à vida. Ou aquele outro fim de tarde em que percebi que a minha nutricionista não é assim, simples e tecnicamente, a minha nutricionista. Eu descobri que ela é minha nutricionista, minha psicóloga, minha amiga, uma das minhas pessoas preferidas, um dos meus exemplos de vida. Não sei se há explicação para a nossa ligação. Tudo o que sei é que um dia eu descobri que Michelle estava o tempo todo entre os poucos em quem eu encontro tudo o que quero ser quando crescer. Eu sinto como se ela soubesse cada um dos meus medos. Ela parece entendê-los. E consegue me convencer a vê-los de um outro jeito. Michelle me apresentou uma música linda. E uma forma mais simples de lidar com a vida.
A tarde está chegando ao fim e eu ainda tenho muito dever pra fazer. Mas hoje eu percebo que nada precisa ser feito com desespero.
Todos os dias, aprendo com Michelle um pouco sobre serenidade, simplicidade, amizade. Por isso e todos os outros tantos motivos, hoje a guardo aqui comigo.
A sete chaves.