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sexta-feira, 20 de março de 2015

de volta à vida real - último dia

Não sei como começar esse texto. Será que eu devo deixar a novidade pro final? Ou já conto no início que deixei o hospital? A notícia é tão boa que eu não sei como dizer, embora eu já tenha dito não só na última frase, mas também no título, tão autoexplicativo. Pois é, amigos, hoje não foi só o último dia do verão. Chegou ao fim também o meu período de internação. Hoje, por volta do meio dia, o momento se resumia nas palavras alegria, despedida e nostalgia. Eu dei tchau ao hospital e, enfim, fui ao encontro da vida real.
O mundo parece muito mais bonito. E muito mais corrido. Acho que estou achando a vida corrida por estar acostumada àquela monotonia hospitalar. Eu tinha esquecido que o ritmo é outro do lado de cá. Esqueci também que a vida guarda em si tanta beleza. Lembrei disso há pouco tempo, no exato momento em que reencontrei a minha antiga leveza. Sinto que mudei. Me sinto mais ativa, viva, e até mais bonita. Estou mais consciente. Descobri em mim a força que antes eu julgava ser inexistente. Mas não se enganem ou achem que estou enganada: sei que estar em casa não significa o fim desta batalha, mas o contrário, afinal, tudo o que mudou foi só o seu cenário. A batalha está só começando. E eu vou continuar compartilhando os meus passos neste espaço. Só não vou mais poder escrever com tanta frequência. Afinal, a vida continua com toda sua demanda. Então vou tentar escrever um texto por semana.
A batalha recomeça a cada manhã. Por isso é que acabo de guardá-la na minha pele, em forma de uma tatuagem: para que eu não esqueça que ainda é preciso muita coragem (mas essa parte fica pra um outro dia).
Vou ficando por aqui, deixando registrado o meu sincero agradecimento a todos os que estiveram do meu lado lá no hospital.
Agora é hora de enfrentar a luta por aqui, na vida real. 

terça-feira, 17 de março de 2015

a resposta - dia trinta e sete

Se essa internação for comparada a uma prisão, posso dizer que estou solta da algema que me prendia a esta cama. A partir de ontem, deixei de receber o líquido protéico cor de café com leite que ia do meu nariz ao meu estômago através de uma sonda. A alegria de ter recebido esta noticia não se explica só por eu já estar cansada da monotonia de cada dia. Eu acredito que este tenha sido um progresso nesse longo processo. Mas a novidade não significa que estou em plena liberdade. Ao longo dessa semana, o meu corpo vai estar sob análise. Tudo vai depender de como ele vai decidir responder. E essa resposta todos vamos saber na sexta-feira.
Se mantenham na torcida para que esta resposta seja positiva. Quanto a mim, vou continuar fazendo a minha parte, renovando a cada manhã a minha coragem.

Por enquanto, tudo o que sei é que, se expectativa fizesse o tempo passar rápido, hoje já seria sábado.

segunda-feira, 16 de março de 2015

juntando as peças - dia trinta e seis

Eu e o meu pai montamos quatro quebra-cabeças nesse final de semana, o que foi o pretexto perfeito para passarmos horas na varanda, o meu refúgio desta cama. Mas admito que não tenho toda essa moral pra poder escrever a primeira frase no plural, afinal, enquanto o meu pai encaixava todas aquelas cento e tantas peças, eu me mantinha mais concentrada nas palavras que construiam nossas conversas.
No chão da varanda, vejo paisagens impecáveis sob um céu azul claro. Construir toda essa flora realmente deu trabalho. Meus olhos passeiam pela área verde quando, de repente, encontram castelos grandiosos e belos. Ao redor deles deve ser o maior silêncio, eu penso. Então vejo, não tão distante dos castelos, vários prédios próximos uns aos outros, antigos e coloridos, que me levam até as ruas do Pelourinho, onde eu ia, quando muito, duas vezes por ano. É, parece que sinto saudade até do Pelourinho, que, embora tão bonito, passava por mim despercebido. Sinto saudade de tudo o que já vi lá fora. Saudade de tudo aquilo que nunca pareceu tão importante quanto agora. Por isso, enquanto o meu pai construia todos esses lugares, eu tentava, através das nossas conversas, encontrar peças que às vezes me faltam, como a paciência e a coragem. Foi bom fazer essa viagem, mas é hora de devolver todas aquelas peças à brinquedoteca. O bom é que vai ficar guardada em mim a força que acabei encontrando em mais uma das nossas tantas conversas.