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segunda-feira, 9 de março de 2015

Gregorio - dia vinte e nove

Eu estou há exatamente um mês nesse hospital. E já não sei quantas vezes escrevi sobre a saudade que sinto da vida real. Então, dessa vez, venho falar sobre um outro mês em que estive quase tão bem quanto estou hoje. Aquele mês de onde agora estou tão longe, embora ainda me lembre como se tivesse acabado ontem.
Foi muito antes de chegar a este hospital. Mas tudo já não estava normal. Esse conflito já fazia do meu corpo um abrigo, implorando para se manter escondido sob o meu sorriso. Essa doença distorceu a minha consciência. E fez da minha mente um campo de batalha. De um lado estava eu, querendo me recuperar. Do lado de lá estava esse transtorno, que fazia com que buscar motivos para batalhar parecesse não fazer sentido, afinal, era como se eu já tivesse perdido. Foi quando eu soube que, em exatamente um mês, eu iria poder ver o meu ídolo.
Ele estaria em Salvador por dois dias, trazendo consigo uma peça e, sem sequer saber, pra mim, um bom motivo. Ir à peça nos dois dias? Eu sabia que seria difícil. Mas, ao invés de bater três vezes no tatame, eu propus a mim mesma e aos meus pais um desafio: eu iria poder vê-lo nos dois dias só se eu conseguisse, em um mês, ganhar dois quilos. Sei que, pra vocês, esse desafio pode parecer fácil demais. Afinal, não há nada mais irrelevante do que dois quilos a mais. Mas a verdade é que quando se tem um transtorno alimentar, quinhentos gramas a mais parecem uma missão quase impossível. Agora imaginem dois quilos. No entanto, eu tinha um bom motivo. Então aquele desafio realmente não me pareceu assim tão difícil. Eu tinha um compromisso comigo. Eu precisava enfrentar e vencer aquele desafio. Pela primeira vez, o meu medo não me parou. Me impulsionou a seguir. E foi o que eu fiz. Eu venci. E ganhando quilos, eu recuperei e distribuí motivos para sorrisos. Em um mês, ganhei a liberdade de que eu me privei durante um ano. Naquele momento, deixei de ser motivo para tanto lamento. Eu me sentia leve por já não estar prestes a ser levada pelo vento. Eu pude ver os meus pais em paz, ocupados em não estarem tão preocupados. E essas rimas nunca vão ser o suficiente para traduzir a minha alegria. Eu voltei a sentir cheiro de esperança e de doce de côco na minha casa. Naquele momento, eu descobri que estava pronta pra enfrentar esta batalha. E é por isso que estou há um mês nesse hospital: porque, mesmo caindo, não me deixei ser derrotada. Eu descobri que se escondia em mim a força de que eu preciso nessa caminhada. E eu nunca iria saber disso se não fosse por você, Gregorio. Por isso, em todas as outras vezes que a gente se viu depois desse desafio, eu tentei te agradecer através do meu sorriso. Mas agora me permito fazê-lo por meio destas palavras. Obrigada, Gregorio. Muito obrigada. Sei que ainda vou ver você mais vezes. Então me espera daí de fora, que em breve estou de volta.

Entende agora por que uso tanto o obrigada?

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