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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

passos à frente - dia onze

Nos primeiros dias de internação, este quarto tinha a frieza de uma prisão. A sonda e o soro que me mantinham parada e deslocada eram algemas disfarçadas. Mas eu não pensei em fugir. Eu já tinha entendido que estar aqui seria melhor pra mim. Só o que faltava era me sentir acostumada à ideia de passar dias inteiros deitada. Mas a gente sabe que costume nunca chega no primeiro momento. Sempre se atrasa e só vem depois de um bom tempo. A novidade é que acabo de ser solta do soro, a minha principal algema, que fazia substâncias e dores correrem pelas minhas veias. Meu corpo acaba de reconquistar um pouco de autonomia. E eu não sabia que não estar deitada seria motivo para tanto alivio e alegria. Eu escrevo esse texto sentada. E cada uma dessas palavras já pode ser gesticulada. Ir até a varanda ou à pia já não parece um sonho irrealizável.
Hoje foi dia de dar passos à frente. Literalmente. 
Acho que as coisas estão ensaiando para melhorar. E eu sei que logo o ensaio vai ter que acabar para que o espetáculo possa começar. 

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