Eu imagino você imaginando que tudo aconteceu de repente, como se um dia eu simplesmente tivesse acordado doente. E eu entendo você. Como um edifício é construído, um transtorno alimentar é desenvolvido de modo gradativo e cansativo. Mas quem vê de fora, só vê o fim da obra.
O fato é que o início de tudo isso foi a soma entre cobranças e mudanças. E esse complexo cálculo matemático resultou nos primeiros motivos e indícios. Respondendo ao preconceito dos leigos: eu não quis ser modelo. Eu não subordinei a minha cabeça à ditadura da magreza, nem sequer quis caber em padrões de beleza. O fato é que, por um segundo, eu quis carregar sozinha todo o peso desse mundo. Eu quis esquecer o passado, entender o presente e saber do futuro. Toda a minha preocupação sem explicação fez com que eu quisesse controlar o tempo e guardá-lo em minha mão. Mas tudo o que estava ao meu alcance era o controle da televisão. E da minha alimentação.
Inconscientemente, eu desliguei a TV. Substituí lazeres por deveres. Perdi quilos e amigos. Sem entender o que estava acontecendo e assustada diante da rapidez com que eu estava emagrecendo, procurei por explicações e informações. Comecei a buscar os motivos para o vazio que passou a conviver comigo. Assisti a vários programas a procura de respostas. Quando o assunto são distúrbios alimentares, sou vítima e especialista. Então, através de todas as minhas pesquisas repetitivas, cheguei a um autodiagnóstico. De modo inconsciente, gradativo e cansativo, eu desenvolvi um transtorno alimentar restritivo. A preocupação ou o preconceito podem te fazer pensar que eu vomito ou não paro de fazer exercício físico. Mas nada disso chegou a estar entre meus sintomas. Simples e infelizmente, eu desaprendi a comer pra viver. Eu desaprendi a comer. E a viver. Por isso, escrevo esse texto pra você: para pedir que você percorra outro caminho, ou este quarto de hospital também vai acabar sendo o seu destino.
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ResponderExcluirP.s. vc , robô, não eh bem vindo!
Valeu, pai! :)
ExcluirEsse post me fez lembrar um tempo, não tanto tempo assim, em que passei por uma situação parecida, emagreci muito em apenas um mês! Perdi a vontade de comer...perdi o apetite! Não me achava gorda, não queria ser modelo! Apenas o tempo passou e o que eu esperava realizar aos 26 anos não realizei! Perdi o apetite por tristeza, decepção comigo, com as minhas escolhas! Mas mesmo sem vontade percebi que não podia deixar aquilo me dominar! Corri para um psicólogo e para um psiquiatra, comprei alimentos ricos em uma porrada de coisa, tomava com leite feito remédio, mas principalmente parei para me escutar (eu adoro aquele desenho procurando Nemo e fiquei, ainda fico, confesso, como a Dory conversando com minha consciência na escuridão do mar profundo - o mar profundo seria lá lá lá dentro de mim ) e nessa introspecção entendi o meu momento de tristeza, minhas angustia pela idade passada, pelos sonhos não realizados pela possibilidade de realizá-los ainda ou até de mudá-los...fui pensando de forma racional sobre o meu irracional! Com a ajuda da psicóloga compreendi até os meus pesadelos...mas a resposta para tudo estava em mim mesma! E foi incrível sentir isso, me ouvir, me entender...
ResponderExcluirObrigada por me proporcionar essas lembranças e relembrar minhas fraquezas e minhas vitórias!
Espero que desta experiência que eu tive e que compartilho contigo, consiga te mostrar que "tudo pode ser...sonhos sempre vem pra quem sonhar" (toda vez que comia sem querer pensava na frase tudo pode ser e automaticamente vinha a música chiclete!).
Força...
PS. Seu texto, novamente bem pensado e escrito, me surpreende a cada post! Espero que deseje ser escritora, jornalista, algo do tipo quando crescer!